"Se não for pra causar, nem vou", a frase cai como uma luva para a campanha de lançamento do Kindle no Brasil.
Em seu 1º filme no país, a marca de e-readers da Amazon fez alusão aos grafites pintados de cinza nos muros de São Paulo, numa clara alfinetada ao atual prefeito da cidade.
Como era de se esperar, o prefs
João Agripino aka Doria, vaidoso que é, reagiu à provocação e respondeu acusando a Kindle de oportunismo.
Oi?
Logo ele que se vestiu de gari e fingiu varrer uma
rua já limpa.
O
fight rendeu nas redes sociais, a internê adora uma treta, você sabe!
O
buzz foi tamanho que outras marcas aproveitaram para
se inserir na história. A polêmica parecia que ia se estender, mas a Kindle deu game over na disputa com a melhor resposta.
Vem que no caminho te explico.
Conhecido por suas ações midiáticas e pela controversa campanha
Cidade Linda, o prefeito de SP apagou os grafites dos muros da cidade, entre eles o maior da América Latina. Sim, o milionário que resolveu virar político, cobriu de cinza o maior mural a céu aberto de
arte urbana da América Latina.
E tacale polêmica.
Para lançar o Kindle no Brasil, a Amazon aproveitou-se do buzz em torno dos grafites apagados e projetou trechos de
livros nas paredes cinzas, de locais como as avenidas Nove de Julho e 23 de Maio.
O filme estreou na segunda, 27. Chamado
Movidos Por Histórias, ele cutuca "Pintaram os muros de cinza?" e em seguida responde "A gente cobriu o cinza de histórias". A veiculação contempla
redes sociais,
sites e portais BRs.
Inicialmente, o prefeito afirmou que não ia comentar, mas quem disse que ele resiste a um holofote? Na manhã desta terça, 28, o político publicou
um vídeo no
Feice sugerindo que a Amazon doe livros a bibliotecas e
computadores a escolas.
Na legenda da postagem, Doria ainda acusa a empresa de de ter sido oportunista.
A mensagem também foi publicada no
Twitter:
Ora, ora, ora! Um sujeito que ataca de garoto-propaganda e faz
merchan de uma empresa farmacêutica em suas redes sociais acusando uma campanha publicitária de ser oportunista.
No vídeo em questão, Doria aparece ao lado de seus secretários promovendo diversos
produtos, como
suplementos vitamínicos e complexos minerais.
Confira:
O prefeito showman parece ter se esquecido que a boa
publicidade deve ter senso de oportunidade, coisa que num político soa como oportunismo. Será que ele faltou essa aula de marketing?
Vale lembrar que apesar de ser líder no mercado de venda de livros, a Amazon não produz computadores. Por que, cargas d'água, a empresa teria de fazer doações destes equipamentos? Afinal, a obrigação de manter instituições municipais é do prefeito, né nom?
O jornalista Mauro Donato questiona, muito apropriadamente,
"a Amazon é oportunista, pedir doações não é?".
Ainda assim, houve quem adorou a resposta do prefeito:
Fazer o quê? Nem todo mundo percebe o oportunismo de alguns políticos, por ingenuidade, ignorância ou má fé.
O prefeito de SP tá sambando, sim, mas não é na cara da Amazon:
Quer mais?
Oportunismo é correr pra pagar uma
dívida de 15 anos de IPTU atrasado, no valor de 90 mil reais, somente depois que a notícia veio a publico.
Tsc tsc tsc... cobrando atitude cidadã dos outros, sendo devedor de IPTU. Para que tá feio, Doria!
Em meio à polêmica, quem aproveitou a oportunidade foi a KaBum!, que decidiu aceitar o "desafio" lançado pelo prefeito a Amazon.
A empresa fez questão de mandar mensagens no Twitter e no Facebook de Doria oferecendo-se para doar computadores e
tablets à prefeitura.
Vale dizer que, mesmo se metendo na
treta alheia, a ação da empresa foi oportuna, não oportunista - o
Giraffas faz isso direto,
né McDonald's? A KaBum! soube aproveitar o espaço deixado pela Amazon ao demorar a responder. Isso faz parte do jogo publicitário.
[ATUALIZAÇÃO - 2/4/2017 - Novas informações sobre a empresa me fizeram mudar de ideia. Sim, a KaBum! foi oportunista ao oferecer as doações! Saiba mais no final do post]
A empresa não foi a única a pegar carona na polêmica entre Amanzon e o prefeito, Multilaser e
Microsoft também ofereceram-se para fazer doações.
Dois aspectos têm chamado atenção quando o assunto é Doria. O primeiro é a capacidade do político de gerar mídia em torno de si. O segundo, consequência do anterior, é como sua gestão tem conseguido doações de empresas de diversos setores. Isto tem provocado um efeito cascata, as empresas já perceberam o movimento e aproveitam pra colocar seus produtos e serviços "à disposição" da cidade - muito em busca de exposição.
Aqui, de boas, imaginando onde esse movimento vai parar. Todas essas empresas estão atrás somente de mídia gratuita ou o buraco é mais embaixo? A troco de que a
Ultrafarma pagou por placas publicitárias para promover a campanha Cidade Linda no jogo do Brasil X Uruguai?
Num país em que o poder público tem enormes prioridades, parcerias com o setor privado são bem-vindas, desde que o objetivo seja o bem comum e não interesses mercadológicos. Companhias que contribuem para o desenvolvimento social ganham com retorno de imagem, pois passam a ser vistas como empresas que se importam com as pessoas e não apenas o lucro. Logicamente, tal impressão influencia a decisão de compra do consumidor e, a longo prazo, resulta no aumento de suas vendas.
A priori, qualquer ganho para as empresas além do de imagem é um tanto suspeito.
De volta à treta Kindle X Doria, após ser provocada pelo prefeito que convocou a marca a doar livros e computadores a instituições públicas, a Amazon deu a melhor resposta.
A empresa ofereceu livros virtuais
grátis e ignorou a provocação do político.
Em um
vídeo divulgado terça, 28, em sua página oficial no Facebook, a Amazon anunciou a disponibilização gratuita de livros digitais de seu acervo.
Ao todo foram oferecidos 36 títulos, que variam de ficções científicas a literatura brasileira. O download é limitado a um livro por cadastro e os arquivos poderão ser lidos pelo Kindle ou por
smartphones.
Gosta de ler? Então não perde essa! ;)
Na descrição do vídeo, a marca também prometeu doar centenas de dispositivos Kindle a
instituições que promovam cultura e educação. Os detalhes dessa
ação ainda não foram divulgados.
A resposta da Amazon foi sensacional. Agradou amantes da leitura, seu real público-alvo e, de quebra, deixou Doria no vácuo. Caso a empresa acatasse a provocação, o prefeito sairia como o bambambam da história.
A Amazon manteve-se fiel ao seu posicionamento mostrando que a campanha da Kindle em que projetou frases de livros nos muros foi oportuna e não oportunista, pois aborda acesso à cultura e educação, valores que fazem parte do DNA da marca.
Cabe uma pergunta: para a publicidade, qual a diferença entre oportuno e oportunista?
De modo geral, pegar carona em assuntos que estão em evidência é
senso de oportunidade. Especialmente se a marca tem a ver com o tema. Uma empresa de pranchas de surf falando sobre poluição dos oceanos, por exemplo. A campanha será ainda mais oportuna se a marca vai além do discurso e, de fato, promove ações de preservação das
águas.
É o caso da Natura, por exemplo. Em suas campanhas, a empresa de
cosméticos fala com propriedade de conservação ambiental, pois realmente promove ações nesse sentido. Por trás da propaganda, ou além dela, há uma preocupação real da marca com questões ambientais. A Natura chegou até a ser
premiada pela ONU.
Já oportunismo é quando a empresa força a barra ao tentar chamar atenção para si aproveitando-se de episódios que nada têm a ver com o seu ramo de atuação, história ou posicionamento de marca.
Fica a dúvida, as empresas que estão se oferecendo para ajudar São Paulo fazem por consciência social ou somente pra ganhar mídia? Elas sempre tiveram uma "atitude cidadã", expressão usada por Dória, ou estão tendo só agora?
ATUALIZAÇÃO - 2/4/2017
Segundo informações do jornalista Pedro Zambarda de Araujo, a KaBuM! tem recorde de reclamações na internet, deixou de remunerar atletas gamers e foi campeã de reclamações na última edição da Black Friday, ou seja, está muito longe do perfil de uma empresa que se preocupa com questões sociais. A doação à prefeitura não condiz com o histórico da KaBum!, o que indica que a iniciativa foi por oportunismo e não por senso de oportunidade.
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