Fenômeno na web, Sleeping Giants expõe empresas que anunciam em sites de fake news e irrita Governo


Com apenas dez dias, o Sleeping Giants Brasil vem provocando um terremoto nas redes. O movimento que busca retirar anúncios de sites de desinformação mobilizou mais de 30 marcas e ganhou 200 mil seguidores em menos de uma semana. Agora já são 317,4 mil seguidores, montante que ultrapassa o da conta pioneira, nos EUA.

O objetivo do movimento é mostrar que grandes companhias têm financiado, por meio de anúncios, sites de notícias falsas associados à extrema direita. "Muitas empresas não sabem que isso acontece, é hora de informá-las", diz a descrição do perfil no Twitter que pretende, assim, impedir que tais sites monetizem através da publicidade.

Alertadas, marcas como Dell, Boticário, Submarino e Telecine bloquearam os anúncios em sistema de mídia programática no Jornal da Cidade Online, reconhecido portal de propagação de fake news. O que gerou reações até mesmo do alto escalão do governo de Jair.

Como surgiu o Sleeping Giants?

O movimento nasceu em 2016 nos EUA com o propósito de "tornar o fanatismo e o sexismo menos lucrativos". Seu criador, o publicitário Matt Rivitz, manteve-se anônimo pela própria segurança e a de sua família até o site conservador The Daily Caller tornar seu nome público.

A lógica é simples: avisar grandes empresas que seus anúncios estão aparecendo em sites extremistas. Diante do alerta, a maioria decide bloquear a publicidade nestas plataformas. Sem monetização, os sites acabam desmantelados por asfixia financeira.



Sim, nós temos Sleeping Giants

Inspirado no modelo norte-americano, um estudante que pesquisa sobre o fenômeno das fake news decidiu criar uma conta em português. O perfil adaptado ao contexto brasileiro pretende "impedir que sites preconceituosos ou de fake news monetizem através da publicidade". Assim como Rivitz, ele mantém o anonimato por motivos de segurança.

O primeiro alvo do perfil BR foi o Jornal da Cidade Online. Um dos maiores propagadores de notícias falsas no país, o JCO já foi acusado de práticas como produzir colunistas falsos com fotos modificadas para atacar políticos e juízes.



Procurando abrir um diálogo, as mensagens para as empresas são amigáveis e diretas.

Entre as marcas que já foram alertadas estão Telecine, Dell, Banco do Brasil, McDonald's, Samsung, TIM, Fast Shop, Caixa, Philips, Claro, Mercado Livre, Loft, Folha de SP, PicPay, Domestika, Zoom, Submarino, Americanas, e até o Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso do Sul.

O TCE-MS que mantinha um banner fixo no site determinou a retirada da publicidade.



O Telecine foi o primeiro anunciante no Brasil a apoiar publicamente a iniciativa e bloquear a publicidade no JCO.







Como anúncios de grandes empresas vão parar em sites extremistas?

A mídia programática, foco de atuação do Sleeping Giants, funciona de forma automática. Anunciantes compram espaços publicitários com base em dados de usuários por meio de plataformas como Google e Facebook. Parte dos anúncios são distribuídos com base em dados de usuários escolhidos pelos anunciantes e outra parte vai parar em sites de grande movimento escolhidos de forma automática pelo sistema das plataformas.

Tal dinâmica garante às empresas que seus anúncios serão visualizados por um grande público, em contrapartida, o site no qual a publicidade está hospedada ganha de acordo com número de visualizações e cliques nos anúncios. Embora haja filtros de controle para as companhias poderem escolher onde seus anúncios automáticos vão parar, nem sempre eles são ativados.

Sleeping Giants Brasil incomoda muita gente

Os efeitos provocados pelo movimento está gerando irritação no Governo de Jair e entre membros da extrema-direita.

O estopim foi a resposta do Banco do Brasil ao aviso do perfil. O banco foi uma das primeiras marcas a serem alertadas sobre a presença de seus banners publicitários no Jornal da Cidade Online.



Um dia depois, o BB informou a suspensão dos anúncios no site. "Repudiamos qualquer disseminação de fake news, disse.



Poucas horas após a resposta do Banco do Brasil, o vereador Carlos Bolsonaro [Republicanos-RJ] foi o primeiro a reagir publicamente. O filho do presidente reclamou da decisão do BB de vetar anúncios no JCO. Para Carluxo, a empresa agora "pisoteia em mídia alternativa que traz verdades omitidas".



Em seguida, o secretário de Comunicação do Planalto, Fábio Wajngarten afirmou que reverteria a situação a favor dos "veículos independentes". Após os protestos, o setor de marketing do banco, gerido pelo filho do vice-presidente Hamilton Mourão, voltou atrás e retirou a restrição de publicidade no JCO.

Nesta quarta, 27, o Tribunal de Contas da União retirou novamente os anúncios no portal. O TCU determinou que o Banco do Brasil suspenda parte de suas campanhas digitais em sites, blogs e redes sociais, atendendo a um pedido do Ministério Público de Contas para abertura de investigação sobre suposta interferência na entidade por parte de Wajngarten e de Carlos Bolsonaro.



Filho 03 de Jair, o deputado federal Eduardo Bolsonaro [sem partido-SP] também se incomodou com a atuação do Sleeping Giants Brasil a quem chamou de "a mais nova estratégia da esquerda para destruir blogs de cunho conservador" em vídeo publicado em seu canal no YouTube. Segundo o filho 02 de Jair, o movimento se trata de "milícia virtual" e "uma patrulha ideológica pré-ordenada", ele pediu ao empresariado que "não se curve ao politicamente correto” e aproveitou para divulgar dois perfis criados no Twitter com objetivo de contrapor o Sleeping Giants - um deles já saiu do ar por descumprir as regras da plataforma.

O contra-ataque bolsonarista

Contra a campanha iniciada pelo Sleeping Giants BR, Bolsonaristas defendem o boicote às empresas que vetaram os anúncios no JCO.

A hashtag #NaoCompreDell chegou a figurar entre os temas mais comentados do Twitter após a fabricante de computadores bloquear o site. Além da suspeita de ter sido inflada por robôs, a repercussão contra Dell virou motivo de deboche:



A deputada Carla Zambelli [PSL-SP] também se manifestou. Uma das mais ferrenhas apoiadoras de Jair, Zambelli criticou a Dell por ceder à "pressão de um perfil anônimo de esquerda", atitude que qualificou como "gesto de desprezo pela maioria conservadora da população brasileira". Zambelli é alvo da Polícia Federal em inquérito do STF que apura propagação de fake news.

O Jornal da Cidade Online, por sua vez, publicou um editorial se dizendo vítima de censura. O portal divulgou ainda notícia onde diz que os anunciantes que bloquearam publicidade no site estão perdendo clientes "de maneira avassaladora". Curiosamente, a matéria se baseia em mensagens de usuários do Twitter, sem nenhuma comprovação estatística - mais uma fake news para a conta.

Sleeping Giants BR ganha apoio de influenciadores e impressiona criadores do movimento

Na contramão da reação bolsonarista, a versão brasileira tem sido celebrada por personalidades como a atriz Patrícia Pillar e o influenciador Felipe Neto.



Os fundadores do Sleeping Giants festejam o sucesso meteórico do perfil BR que em cinco dias já  batia 200 mil seguidores, perto de alcançar os números do original em inglês. "O perfil gerou um movimento massivo em todo o Brasil, sendo comentado por todos, desde o maior youtuber do país até os filhos de seu presidente, teve grandes anunciantes que deixaram de apoiar um site que espalha desinformação e, em breve, será muito maior do que a nossa humilde e pequena conta", publicaram. O perfil norte-americano foi criado em 2016 e tem 270.000 seguidores.



O Brasil, como eu posso explicar o Brasil

A atuação do perfil brasileiro já rendeu situações curiosas. A Nubank, por exemplo, ao ser avisada sobre um anúncio, verificou que ele não integrava suas campanhas oficiais, mas se tratava na verdade de um golpe realizado por terceiros para atrair usuários com promessas falsas na aprovação de cartão de crédito.

Algumas empresas, como a Mercedes-Benz, mesmo avisadas, se recusaram a bloquear seus anúncios no portal de fake news.



Importante dizer que, ao contrário do que afirma a fabricante de veículos, as empresas têm sim como controlar em que sites seus anúncios aparecerão.

Um perfil chamado Gigantes Não Dormem, que se descreve como "Movimento Conservador Anti Boicote", plagiando o Sleeping Giants às avessas, tem abordado marcas para pedir que elas bloqueiem seus anúncios automáticos em páginas consideradas de esquerda.


O perfil já soma 23,8 mil seguidores, quantos deles devem ser robos?



Como se vê, o trabalho do Sleeping Giants Brasil está apenas começando. Segundo o administrador, há mais de 100 páginas e canais monitorados por causa de fake news que se mantêm por meio de receitas com mídias programáticas.

A estratégia do perfil, entretanto, é focar na exposição de um veículo por vez até que ele seja desmonetizado totalmente.



Vida longa ao Sleeping Giants Brasil.

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