A treta começou quando Marcelo Crivella [PRB] censurou a graphic novel "Vingadores, a cruzada das crianças", disponível na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, por conta de um beijo entre os personagens Wiccano e Hulkling, que são namorados.
Na quinta-feira, 5, o prefeito ordenou à Bienal que retirasse a obra do local pois, segundo ele, a história em quadrinhos contém "conteúdo sexual para menores".
Censura? Preconceito? Palanque junto ao público evangélico e conservador? Ou todas as alternativas anteriores? Analistas políticos apontam a estratégia de Crivella de tentar fazer campanha antecipada para reeleição como prefeito.
A repercussão do caso chegou a parar na capa dos jornais.
Acompanhe todo o rolê:
O prefeito Marcelo Crivella pediu para a Bienal do Livro recolher um romance gráfico (graphic novel) 'Vingadores, a cruzada das crianças', que está à venda no evento, por trazer uma cena de dois personagens masculinos se beijando. https://t.co/uy526MXCiq— Fernanda Rouvenat (@frouvenat) September 6, 2019
Os personagens que são citados são Hulkling e Wiccano. Nos quadrinhos, dois adolescentes que namoram e têm superpoderes. Qual o problema? pic.twitter.com/uwNoQ3BTJU— Popoca (@sitepopoca) September 6, 2019
O namoro deles é de conhecimento dos pais. E aceito por eles. Talvez ajude muita gente a trabalhar seu preconceito.— Popoca (@sitepopoca) September 6, 2019
No mesmo dia, fiscais da prefeitura foram à Bienal executar a apreensão de livros pela primeira vez:
Fiscais visitando estandes das editoras para lacrar e carimbar livros consirados 'inadequados'. pic.twitter.com/qbTyqoerSB— Vá Ler um livro (@valerumlivro) September 6, 2019
Público presente no evento reagiu contra a censura:
Fiscais são vaiados ao buscarem exemplares de HQ com beijo gay na Bienal https://t.co/U5bjpaEEt0— Exame (@exame) September 6, 2019
Crivella chegou a citar o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] para justificar a ação arbitrária.
Artigos do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) citados pelo prefeito do RJ @MCrivella não autorizam agentes municipais a ir - sem ordem judicial, sem contraditório e ampla defesa - a recolher livros numa Bienal. https://t.co/B91hXKzZxB— Thiago Amparo (@thiamparo) September 6, 2019
Mais uma vez, o prefeito errou feio, errou rude:
Artigos 78-80 do ECA exigem apenas que haja embalagens lacradas ou opacas em publicações de conteúdo impróprio, obsceno ou pornográfico. E PONTO. Não permite censurar bienal, não permite qualificar cartoon com beijo gay como obsceno pq fazê-lo significaria discriminação proibida— Thiago Amparo (@thiamparo) September 6, 2019
E vou além: a discriminação está configurada pq o mesmo tratamento não é dado a desenhos com heterossexuais. Logo o critério de diferenciação é a orientação sexual e não a obscenidade de um simples beijo. Isso é punido pela Lei 7041/2015 do RJ e Lei 7716/89 depois do STF ADO 26.— Thiago Amparo (@thiamparo) September 6, 2019
E o agente municipal disse ao jornal GLOBO que tem “poder de polícia” para fiscalizar e lacrar conteúdo impróprio. Sugiro abrir a Constituição, olhar o Art. 37 e entender que poder de polícia deve respeitar limites legais, ser proporcional e impessoal. Não é o caso.— Thiago Amparo (@thiamparo) September 6, 2019
Entidades como a OEA [Organização Organização dos Estados Americanos] e OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] se manifestaram:
OEA classificada ato de Crivella na bienal como censura, e fala em violação de compromissos internacionais do Brasil. https://t.co/bsnKyt0HID— Igor Mello (@igormello) September 6, 2019
Para a OAB, essa fiscalização deveria ser feita por órgãos como o Ministério Público, e não pela prefeitura. #NoArNaCBN #bienal #cbnnabienal https://t.co/ULFOPjKlK3— Rádio CBN (@CBNoficial) September 6, 2019
Maior editora do país, Companhia das Letras lançou uma campanha contra o preconceito:
Diante da censura feita por Marcelo Crivella, prefeito do Rio, e da fiscalização p/ identificar livros considerados “impróprios” na Bienal do Livro, a Companhia manifesta seu repúdio a todo e qualquer ato de censura e se posiciona, mais uma vez, à favor da liberdade de expressão. pic.twitter.com/ijpjkDlwZX— Companhia das Letras (@cialetras) September 6, 2019
Se um dos objetivos de Crivella era proibir o acesso do público à obra, o tiro saiu pela culatra:
Livro esgotou às 9h39. Quase 40 minutos depois de a Bienal abrir nesta sexta-feira. pic.twitter.com/Z8W1ilFcB6— Lívia Torres (@livtorres) September 6, 2019
O livro esgotou às 9h39, menos de 40 minutos depois da abertura da feira hoje. O exemplar estava sendo vendido nos estandes de “saldões”, porque a editora que publicou o livro, a Salvat, não está expondo este ano na Bienal. https://t.co/f3jCvMjl2H— Bárbara Carvalho (@bcarvalhorep) September 6, 2019
Na sexta-feira, 6, Justiça proibiu a ação da prefeitura após Bienal impetrar um mandado de segurança no TJ-RJ.
NOTA OFICIAL pic.twitter.com/ZCSkzWVv9c— Bienal do Livro Rio (@bienaldolivro) September 6, 2019
Justiça proíbe Prefeitura do Rio de restringir venda de livros na Bienal https://t.co/mvIFqCCtMh— VEJA (@VEJA) September 6, 2019
A liminar, no entanto, foi derrubada pelo presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Claudio de Mello Tavares, o que permitiu que fiscais da prefeitura voltassem ao evento no sábado, 7, para a busca e apreensão de livros com temática LGBTQ+.
Atenção: presidente do TJ-RJ acaba de cassar liminar que proibia o recolhimento de livros de temática LGBT na Bienal do Livro. A medida autoriza a Prefeitura a recolher os livros, se assim entender. pic.twitter.com/DgQudjRhrO— Tabata Viapiana (@tah_viapiana) September 7, 2019
>@EstadaoCultura Com nova decisão do TJ, fiscais da prefeitura voltam à Bienal do Rio para 'checar' livros https://t.co/fuxuPx68NF— Estadão (@Estadao) September 7, 2019
Em protesto, o público caminhou pelos corredores da Bienal bradando "Não vai ter censura!".
Aos gritos de "Não vai ter censura", público da Bienal do Rio protesta recolhimento de obras LGBTQ no evento https://t.co/a8ZG6N1sQq #CensuraNaBienal pic.twitter.com/1FeUp9829c— omelete (@omelete) September 8, 2019
“Não vai ter censura”, gritam manifestantes na Bienal do Livro do Rio. Na sequência, leram o artigo 5º da Constituição Federal. pic.twitter.com/iMXlGMlpmV— Victor Ferreira (@VictorFerreira) September 7, 2019
— Vá Ler um livro (@valerumlivro) September 7, 2019
Também rolou um beijaço contra o recolhimento das obras:
Público da Bienal faz 'beijaço' contra ordem de Crivella para apreender livros https://t.co/Zo2zne7XbW #G1 pic.twitter.com/yBdyJQErMI— G1 (@g1) September 7, 2019
Em nota, Bienal afirmou que vai ao Supremo Tribunal Federal contra ação ordenada na quinta-feira por Crivella.
NOTA OFICIAL pic.twitter.com/CQSZUxzWsF— Bienal do Livro Rio (@bienaldolivro) September 7, 2019
Enquanto a treta rolava na Justiça, Felipe Neto foi lá e fez. O influencer comprou 14 mil livros com temática LGBTQ+ e distribuiu gratuitamente no evento.
ACABOU!!! CONSEGUIMOS DISTRIBUIR TODOS OS 14 MIL LIVROS ANTES DA CHEGADA DOS AGENTES DA CENSURA!!!!— Felipe Neto (@felipeneto) September 7, 2019
Estamos todos muito emocionados e felizes! VENCEMOS!!! pic.twitter.com/8j9jrnJwMC
No domingo, 8, o Presidente do STF, Dias Toffoli, revogou a apreensão de livros LGBTQ+ na Bienal.
Nathalia Dill, Thiago Fragoso, Daniela Mercury, e Mauro Sousa, filho do cartunista Maurício de Sousa, estão entre as celebridades que se manifestarem contra a censura.
Nathalia Dill
Mateus Solano:
Thiago Fragoso
Mauro Sousa
Daniela Mercury
Matheus Nachtergaele
O escritor Paulo Coelho rechaçou a atitude de Crivella. "A Feira do Livro do Rio foi invadida hoje por neo-talibãs confiscando livros "pecaminosos". Meu "11 Minutes" é um texto ousado sobre prostituição, S&M, voyeurismo, disse a eles onde encontrar as cópias, mas eles não ousaram tocá-la (até agora)", escreveu.
Rio Book Fair was invaded today by neo-talibans confiscating "sinful" books.— Paulo Coelho (@paulocoelho) September 6, 2019
My "11 Minutes" is a racy text about prostitution, S&M, voyeurism, told them where to find the copies, but they did not dare to touch it (so far) pic.twitter.com/3TYuMc3tmP
Influenciadores e políticos também se manifestaram:
Não dá pra acreditar que a vistoria e apreensão dos livros com conteúdo LGBT na #Bienal do Rio foi cumprida por agentes da "Secretaria Municipal de Ordem Pública". Em pleno 2019 uma pasta com esse nome é muita saudade de ditadura mesmo.— Lucas Bulgarelli (@lucasbulgar) September 6, 2019
Enquanto o Rio de Janeiro passa por uma enorme crise financeira o prefeito Crivella achou que seria uma boa ideia gastar recursos públicos FISCALIZANDO HQ QUE TENHA BEIJO ENTRE DOIS HOMENS EM PLENA BIENAL!— Felipe Castanhari (@FeCastanhari) September 6, 2019
O nome disso é CENSURA em sua forma mais estúpida e ignorante. pic.twitter.com/VrMaGWYrmK
O assunto no salão de beleza é a CENSURA do Crivella na Bienal. Nada de Caras e celebridades. Manicures e clientes revoltadas. Há esperança.— Mariliz Pereira Jorge (@marilizpj) September 6, 2019
O Rio tá um caos. Aeroporto fechado. Vias abandonadas. Turistas sendo esfaqueados. Estrutura péssima pra receber qualquer grande evento, como a @bienaldolivro. Amigos com medo de sair à noite. E o obtuso prefeito Crivella só se preocupa com belo beijo gay e censurar livros e HQs— Filipe Vilicic (@FilipeVilicic) September 6, 2019
Certeza que o Crivella aprova o relacionamento normal e hetero entre a Mulher-Hulk e o Fanático, promovendo valores cristãos. pic.twitter.com/oXtb1HLOrz— cardoso (@Cardoso) September 6, 2019
Uma cena de pesadelo. Fiscais invadem feira de livros atrás de conteúdo LGBT. Censura é proibida e STF acabou de criminalizar a homofobia. Não podemos aceitar esse absurdo. pic.twitter.com/N3Bz7cwjsy— Manuela (@ManuelaDavila) September 6, 2019
Dia Histórico na Bienal do Rio!— Erika Kokay (@erikakokay) September 8, 2019
Público reage forte contra a Censura de Crivella !
Mais amor, menos ódio !
#CensuraNaBienal pic.twitter.com/K4JLMlF5Aq
O Rio em crise econômica e social, milhares de desempregados, a saúde em frangalhos. E o prefeito preocupado em recolher livros de um evento privado? Quais as prioridades de Crivella? #LeiaComOrgulho— Talíria Petrone (@taliriapetrone) September 6, 2019
Nada além de uma inaceitável e inconstitucional censura!— Chicão (@ChicaoBulhoes) September 6, 2019
Crianças só entram acompanhadas de pais e responsáveis. São eles que devem fazer o filtro quando julgarem adequado.
Ano que vem o Rio terá a oportunidade de julgar esses atos... https://t.co/ngEZ7Ymw1L
Desinformação, mentira, moralismo farisaico, uso político das nossas crianças (e desvio de finalidade das políticas públicas de proteção), abuso de poder. Crivella será responsabilizado por querer fazer da Bienal um exemplo do seu obscurantismo tosco. https://t.co/zJkewsim7H— Marcelo Calero (@caleromarcelo) September 6, 2019
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