O episódio do fechamento da exposiçao "Queermuseu", em Porto Alegre, na semana passada, mostra mais do que simples intolerância. Salta aos olhos, no caso, a juniorizaçao das instâncias de decisao institucional e mercadológica do patrocinador – Banco Santander – e que parece ser geral nas empresas brasileiras.
Qualquer cidadao minimamente informado preveria que a mostra nao escaparia de protestos de setores conservadores. O Santander, sua diretoria e seu departamento de marketing certamente tinham isso em conta. Se lançaram a exposiçao, é porque calcularam o eventual risco.
No entanto, à menor grita dos articulados adolescentes conservadores do MBL, a instituiçao tremeu – e desistiu de uma decisao estratégica já em pleno curso. A ameaça dos garotos era boicotar o banco, manter uma campanha para que os clientes fechassem suas contas no banco espanhol. Um estudante mediano de comunicaçao sabe que esse tipo de debate, mesmo que conflituoso, como era o caso, só traz benefícios à marca.
Liberdade é um valor que alguns vao à rua defender, mas a maioria apoia em silêncio. Por outro lado, bastava uma declaraçao de 15 minutos à imprensa, mostrando duas ou três obras expostas na Galeria Degli Ufizzi ou no (a turma adora!) Whitney Museum of Modern Art para acalmar de vez a classe média eventualmente incomodada (claro, os garotos do MBL seguiriam estrilando – e gerando justamente o efeito “falem-mal-mas-falem-de-mim”).
Preocupa, no episódio, que apenas grupos defensores das causas LGBT tenham vindo a público para protestar. Essa nao é uma causa gay. É uma causa da liberdade. Assim, interessa – e ameaça – a todos.
Por Jayme Serva, texto originalmente publicado no Blue Bus.
Gaudencio Fidelis, curador da exposição "Queermuseu", desabafou sobre o cancelamento: "Neste momento, depois de 5 horas me ocorre que a despeito de tudo que o ato do Santander representa, o pior foi o precedente que eles ajudaram a criar! Agora esses doidos reacionários vão achar que em 3 dias no meio de um feriado podem fechar uma exposição. Isso o pior de tudo a curto e médio prazo! Um estrago pelo qual todos nós iremos pagar!".
Assim [des]caminha a humanidade...
O cancelamento da exposição graças às ações grotescas do MBL virou pauta do Sensacionalista:
Projeto do MBL pretende vestir obras de arte em museus ao redor do mundo https://t.co/zVXmADrLMH— Sensacionalista (@sensacionalista) 11 de setembro de 2017
Há boatos de que o Santander irá doar a gasolina:
Após fechar exposição de arte, MBL prepara sua primeira fogueira de livros https://t.co/f1wcPkzHhN— Sensacionalista (@sensacionalista) 11 de setembro de 2017
Abaixo, a nota publicada pelo banco:
Nos últimos dias, recebemos diversas manifestações críticas sobre a exposição Queermuseu – Cartografias da diferença na Arte Brasileira. Pedimos sinceras desculpas a todos os que se sentiram ofendidos por alguma obra que fazia parte da mostra.
O objetivo do Santander Cultural é incentivar as artes e promover o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo, e não gerar qualquer tipo de desrespeito e discórdia. Nosso papel, como um espaço cultural, é dar luz ao trabalho de curadores e artistas brasileiros para gerar reflexão. Sempre fazemos isso sem interferir no conteúdo para preservar a independência dos autores, e essa tem sido a maneira mais eficaz de levar ao público um trabalho inovador e de qualidade.
Desta vez, no entanto, ouvimos as manifestações e entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana.
O Santander Cultural não chancela um tipo de arte, mas sim a arte na sua pluralidade, alicerçada no profundo respeito que temos por cada indivíduo. Por essa razão, decidimos encerrar a mostra neste domingo, 10/09. Garantimos, no entanto, que seguimos comprometidos com a promoção do debate sobre diversidade e outros grandes temas contemporâneos.
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