Comercial do Banco do Brasil censurado por Bolsonaro. A diversidade incomoda


Uma campanha com atores negros, jovens tatuados e pessoas de cabelos compridos, representando a diversidade, foi retirada do ar, em abril, pelo governo. O filme "Selfie", da WMcCann para o BB, mostrava que abrir uma conta no banco é fácil e prático como tirar uma selfie.

O veto partiu do próprio presidente Jair Bolsonaro e de Rubem Novaes, presidente do banco. A treta custou o emprego do diretor de Comunicação e Marketing, Delano Valentim. O Planalto chegou a afirmar que campanhas de estatais passariam pela aprovação de Jair, mas no mesmo dia recuou da decisão.

Vem comigo que no caminho te explico.



O presidente da instituição Rubem Novaes confirmou que a decisão de não veicular o comercial foi tomada em conjunto com Bolsonaro. Leia-se: o presidente se envolveu pessoalmente no caso e procurou Novaes para reclamar da peça, sabe-se lá o porquê. O diretor de Comunicação e Marketing, Delano Valentim, que estava de férias, terminou sendo exonerado.




Do ponto de vista da publicidade não há nada de errado com o filme, pelo contrário. Dirigido ao público jovem, um dos targets que o Banco do Brasil quer - e precisa - atingir, para evitar o envelhecimento de sua base de clientes, o comercial que divulga o serviço de abertura de conta corrente via app no celular tem uma vibe descontraída, colorida e vibrante que conversa diretamente com o público, além de um cast que representa a diversidade racial e sexual do país.

O comercial do BB é prova de que a publicidade vem se esforçando nos últimos anos no sentido de se tornar inclusiva, embora ainda haja longo caminho pela frente.




A diversidade foi o que incomodou Bolsonaro. A ponto de um executivo de alto escalão ser demitido. Funcionário de carreira do BB, Valentim estava há dois meses na função. Seu antecessor, Alexandre Souza, que foi direcionado  para a diretoria de estratégia e organização, ficará como interino no marketing.

Rubem Novaes confirma que o presidente não gostou da peça e encampa a posição do chefe. Não diz, porém, o que ele e Jair reprovaram. Oficialmente, não foi apresentado um motivo para a retirada da propaganda.

"O presidente Bolsonaro e eu concordamos que o filme deveria ser recolhido. Saída do diretor em decisão de consenso, inclusive com aceitação do próprio", escreveu o presidente do BB em nota emitida pela instituição.




O Palácio do Planalto disse que não faria comentários sobre o assunto.




O filme de 30'' começou a ser veiculado em TV e internet no dia 1º de abril e saiu do ar cerca de duas semanas depois. A informação do veto foi divulgada inicialmente por Lauro Jardim, d'O Globo.

Influenciadores, como Celbit, mostravam no filme as vantagens de ser correntista digital. A estratégia ganharia uma esquete de humor intitulada "Manda foto, Bebê" no canal Porta dos Fundos, reforçando as facilidades da conta. Tal esquete, até o momento, não foi ao ar.


A internet não perdoou o veto e lembrou de uma paródia do Tá No Ar que zoava os comerciais de banco:


Também rola essa outra versão, segundo o Sensacionalista:




O BB divulgou nota explicando que a peça foi retirada do ar porque Rubem Novaes entendeu que "faltaram alguns perfis de jovens brasileiros" que também seriam alvo do banco. A peça custou R$ 17 milhões e foi criada pela WMaCann, uma das três agências responsáveis pela publicidade da estatal.




No dia seguinte ao veto, o governo Bolsonaro decidiu que todas as campanhas de estatais passariam por aprovação da Presidência da Reppública, via Secretaria de Comunicação Social [Secom], comandada pelo ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz. Até então, apenas filmes institucionais, que tratam da imagem da marca, passavam pelo crivo do governo e não de ações mercadológicas, como o que foi vetado.




O Planalto, entretanto, recuou. No mesmo dia, sexta 26 de abril, a Secretaria de Governo divulgou nota informando que peças publicitárias de estatais não precisarão ser analisadas pela Presidência da República, já que isso feriria a Lei das Estatais.




Retrato da ideologia bolsonarista

É a quarta vez que o governo Bolsonaro determina a retirada de peças de comunicação por discordar do seu conteúdo. Na 1ª medida, logo após a posse, o Ministério da Saúde determinou a suspensão da divulgação de uma cartilha voltada para população de mulheres trans, que estava no ar havia seis meses.

O 2º veto veio no Carnaval. A campanha de prevenção de DSTs, ao contrário dos anos anteriores, não fazia nenhuma referência a LGBTs. Foram vetados conteúdos que mostravam casais do mesmo sexo. As peças foram substituídas por um material "genérico". Assim como no caso da cartilha, a atitude foi extremamente criticada por especialistas da área.

Em março, Bolsonaro disse que "mandaria recolher" uma caderneta voltada para adolescentes, com informações sobre saúde e sexualidade, além do calendário de vacinas. Segundo o presidente, a leitura para crianças de 8 ou 9 anos "não ficava bem". Na ocasião, o Ministério da Saúde afirmou que revisaria o material, também lançado no governo anterior. Agora, a determinação é de que a caderneta seja destinada apenas para adolescentes com mais de 14 anos.

Confira mais reações:

















Veja também:

Tá No Ar gera polêmica com "comercial" que critica privilégio racial - Branco do Brasil
Budweiser provoca pessoas a ser quem elas quiserem. Nova campanha é ode à liberdade
Sobre rótulos e trajes
O treino que muda opiniões
Do que você tem medo? | What I Be Project - Steve Rosenfield
Opinião X Preconceito: Burger King explica a diferença usando seus próprios haters
Uma corrida valendo dinheiro e uma lição de vida comovente e necessária
Meet Uncle Drew: Pepsi quebra paradigmas em campanha para divulgar novo sabor
'Verdadeiro fã para muitos': frase de Bolsonaro vira meme
Presidente tuiteiro fica sem Twitter porque filho troca a senha. Veja os memes
'Conge', 'Tchutchuca'  e 'centopeia humana' fazem Moro, Guedes e Bolsonaro caírem na zoeira. Entenda a tour e confira os melhores memes