Uma campanha com atores negros, jovens tatuados e pessoas de cabelos compridos, representando a diversidade, foi retirada do ar, em abril, pelo governo. O filme "Selfie", da WMcCann para o BB, mostrava que abrir uma conta no banco é fácil e prático como tirar uma selfie.
O veto partiu do próprio presidente Jair Bolsonaro e de Rubem Novaes, presidente do banco. A treta custou o emprego do diretor de Comunicação e Marketing, Delano Valentim. O Planalto chegou a afirmar que campanhas de estatais passariam pela aprovação de Jair, mas no mesmo dia recuou da decisão.
Vem comigo que no caminho te explico.
Este é o filme do Banco do Brasil censurado pelo Bolsonaro, que mandou ainda demitir o diretor de Comunicação e Marketing do banco, irritado com o "excesso de diversidade" da peça. Se isso não é racismo, não sei o que é. pic.twitter.com/I1rThhgHd6— Lino Bocchini (@linobocchini) 25 de abril de 2019
O presidente da instituição Rubem Novaes confirmou que a decisão de não veicular o comercial foi tomada em conjunto com Bolsonaro. Leia-se: o presidente se envolveu pessoalmente no caso e procurou Novaes para reclamar da peça, sabe-se lá o porquê. O diretor de Comunicação e Marketing, Delano Valentim, que estava de férias, terminou sendo exonerado.
acabei de assistir o comercial vetado do Banco do Brasil e achei bem filmado, inteligente, divertido, e com trilha dessas que gruda na cabeça e faz com que tudo mundo lembre. parece ser brilhante ter proibido ele, vai que as pessoas viram clientes do banco e o mesmo gera lucro..— Paola Carosella ⚡️ (@PaolaCarosella) 25 de abril de 2019
Do ponto de vista da publicidade não há nada de errado com o filme, pelo contrário. Dirigido ao público jovem, um dos targets que o Banco do Brasil quer - e precisa - atingir, para evitar o envelhecimento de sua base de clientes, o comercial que divulga o serviço de abertura de conta corrente via app no celular tem uma vibe descontraída, colorida e vibrante que conversa diretamente com o público, além de um cast que representa a diversidade racial e sexual do país.
O comercial do BB é prova de que a publicidade vem se esforçando nos últimos anos no sentido de se tornar inclusiva, embora ainda haja longo caminho pela frente.
Achei a campanha criativa e capaz de conectar-se ao público jovem. Uma pena não usar a inteligente proposta para atrair novos clientes e dialogar com nossa diversidade.— luciana barros (@barrosluciana9) 25 de abril de 2019
Rubem Novaes confirma que o presidente não gostou da peça e encampa a posição do chefe. Não diz, porém, o que ele e Jair reprovaram. Oficialmente, não foi apresentado um motivo para a retirada da propaganda.
"O presidente Bolsonaro e eu concordamos que o filme deveria ser recolhido. Saída do diretor em decisão de consenso, inclusive com aceitação do próprio", escreveu o presidente do BB em nota emitida pela instituição.
O que seria um cidadão "normal"? O que na visão do presidente do Banco do Brasil caracteriza a "normalidade"? O que seria "anormal" para ele? Inacreditável um discurso destes em 2019 https://t.co/EuJZryZ93w— Guga Chacra 🇧🇷🇺🇸🇱🇧🇮🇹🇦🇷 (@gugachacra) 27 de abril de 2019
Indignada! A peça é super apropriada ao que se propõe. Super atual como deve ser uma peça que divulga um banco por aplicativo!— PoliticaEnvolveTudoEnvolvePolítica (@miriasampaiobsb) 25 de abril de 2019
Que mico, @jairbolsonaro !
O filme de 30'' começou a ser veiculado em TV e internet no dia 1º de abril e saiu do ar cerca de duas semanas depois. A informação do veto foi divulgada inicialmente por Lauro Jardim, d'O Globo.
Influenciadores, como Celbit, mostravam no filme as vantagens de ser correntista digital. A estratégia ganharia uma esquete de humor intitulada "Manda foto, Bebê" no canal Porta dos Fundos, reforçando as facilidades da conta. Tal esquete, até o momento, não foi ao ar.
A internet não perdoou o veto e lembrou de uma paródia do Tá No Ar que zoava os comerciais de banco:
#TaNoAr PREVIU:— Delmar Alves ❁ (@alves_delmar) 25 de abril de 2019
-ESSA ERA O COMERCIAL IDEAL PRO BANCO DO BRASIL QUE BOLSONARO QUERIA!#MaisDiversidadeMenosBolsolão#EuAvisei 👉🍊🍊 pic.twitter.com/kzHrDgyFMk
Bolsonaro aprova novo comercial do BB com Queiroz no caixa eletrônico https://t.co/VYJQ1UGISI— Sensacionalista (@sensacionalista) 26 de abril de 2019
No mundo ideal, presidente não mandaria tirar vídeo do ar; faria reclamação no Conarhttps://t.co/q41iQOuHsK— Ancelmo.Com (@Ancelmocom) 27 de abril de 2019
No dia seguinte ao veto, o governo Bolsonaro decidiu que todas as campanhas de estatais passariam por aprovação da Presidência da Reppública, via Secretaria de Comunicação Social [Secom], comandada pelo ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz. Até então, apenas filmes institucionais, que tratam da imagem da marca, passavam pelo crivo do governo e não de ações mercadológicas, como o que foi vetado.
Repitam comigo o nome disso: CEN-SU-RA https://t.co/RWccjjjazS— Mariliz Pereira Jorge (@marilizpj) 26 de abril de 2019
"Nas palavras de um auxiliar palaciano, 'o governo desistiu, pelo menos neste momento, da análise prévia [das propagandas de estatais], até segunda ordem"— J. (@jotacorreria) 27 de abril de 2019
Recuoooooooooouuuuuuhttps://t.co/88AMsZ3cyG
Retrato da ideologia bolsonarista
É a quarta vez que o governo Bolsonaro determina a retirada de peças de comunicação por discordar do seu conteúdo. Na 1ª medida, logo após a posse, o Ministério da Saúde determinou a suspensão da divulgação de uma cartilha voltada para população de mulheres trans, que estava no ar havia seis meses.
O 2º veto veio no Carnaval. A campanha de prevenção de DSTs, ao contrário dos anos anteriores, não fazia nenhuma referência a LGBTs. Foram vetados conteúdos que mostravam casais do mesmo sexo. As peças foram substituídas por um material "genérico". Assim como no caso da cartilha, a atitude foi extremamente criticada por especialistas da área.
Em março, Bolsonaro disse que "mandaria recolher" uma caderneta voltada para adolescentes, com informações sobre saúde e sexualidade, além do calendário de vacinas. Segundo o presidente, a leitura para crianças de 8 ou 9 anos "não ficava bem". Na ocasião, o Ministério da Saúde afirmou que revisaria o material, também lançado no governo anterior. Agora, a determinação é de que a caderneta seja destinada apenas para adolescentes com mais de 14 anos.
Confira mais reações:
Independente da qualidade da propaganda, o presidente rasga a 13.303 completamente com essas intervenções, sobretudo nas de capital misto. Existem acionistas, existe um conselho e existem diretores. Estatal não é secretaria de governo para obedecer mandos e desmandos do PR.— Thiago Goes (@thiagogoesadm) 25 de abril de 2019
Governo Bolsonaro se dizia liberal, mas tá adorando interferir em empresas. Começou se metendo na Petrobras; Agora intervém no Banco do Brasil p/ decidir sobre o conteúdo de uma campanha publicitária com negros e pessoas tatuadas. O capitão anda incomodado com a diversidade https://t.co/P1boKmwIJ7— George Marques (@GeorgMarques) 25 de abril de 2019
Ele nem deve saber o que significa liberal. Esse governo é um grande equívoco— LeonardoPimenta (@LeonardoPimenta) 25 de abril de 2019
Se o @BancodoBrasil retira do ar uma conta por excesso de diversidade é hora de procurar outro banco para todos meus investimentos. Uma pena. Sou cliente faz uns 20 anos.— Eliseu Neto (@eliseuneto) 25 de abril de 2019
Esse é o meu presidente! Somos um só povo e uma só raça. Ninguém é superior a ninguém.— Marcelo Callegario17 (@BravinMarcelo) 25 de abril de 2019
Na teoria não deveria ser ngm superior msm,mas na realidade prática acaba sendo sim...— Vitor ☘️🧀 🐘 ✠ (@Vitorpe283) 25 de abril de 2019
Engraçado q a igualdade só passou a incomodar quando o negro começou a aparecer— pseu (@CarmoFscarmo) 25 de abril de 2019
Sou correntista do BB e não quero pagar um monte de tarifas pra patrocinar esportes ou campanhas de diversidade. Isso não é função do banco.— Karl Friedrich 😎👉👉 (@lichteritter) 25 de abril de 2019
Boa presida, estamos em situação de pleno emprego e a economia está ótima. Pode seguir se preocupando com peça publicitária de banco 👍— Bruna (@brunbazzo) 25 de abril de 2019
O Brasil, com toda a nossa diversidade, é gigante demais para a cabecinha do presidente da República. Bolsonaro vetou a propaganda do Banco do Brasil porque quer um país cinzento, autoritário e medíocre como o seu governo.— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) 25 de abril de 2019
Só um aloprado em doses cavalares para vetar o vídeo do Banco do Brasil. A campanha toda pronta, recurso público gasto, e ele vem fazer demarcação barata de seu preconceito vil.— Ivan Valente (@IvanValente) 25 de abril de 2019
O que ele valoriza é a intriga, o desrespeito, tipo as baixarias entre seu filho e o vice.
Esse vídeo do Banco do Brasil foi censurado por Bolsonaro, que demitiu o diretor de comunicação do banco. Onde já se viu um presidente tomar uma atitude dessas sem apresentar nenhum motivo plausível?! Bolsonaro não suporta ver a pluralidade de corpos e sotaques do Brasil. pic.twitter.com/XU2GMjt3jD— Sâmia Bomfim (@samiabomfim) 25 de abril de 2019
Qual mensagem Bolsonaro quer passar?— Margarida Salomão (@JFMargarida) 25 de abril de 2019
Que se você é negro ou negra, tatuado ou tatuada, com estilo jovem, o Banco do Brasil não é pra você?
Vale lembrar o cancioneiro popular: "Que medo vocês têm de nós"https://t.co/4jXOvFaEa6
Mais um absurdo protagonizado pelo governo. Desta vez, Bolsonaro censurou uma campanha publicitária do Banco do Brasil estrelada por atores e atrizes negros. O motivo? Ao que tudo indica, a diversidade incomoda. pic.twitter.com/xZJ1s4giqW— Maria do Rosario #LulaLivre (@mariadorosario) 25 de abril de 2019
Bolsonaro veta campanha do Banco do Brasil marcada pela diversidade e diretor cai — veja o vídeo proibido | Lauro Jardim - O Globo https://t.co/2FCq91Phlk— Lauro Jardim (@laurojardim) 25 de abril de 2019
imagens do novo comercial do banco do brasil pic.twitter.com/CuTZIS6SOK— Rosa de Nagasaki (@anacronices) 28 de abril de 2019
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