Conheça o Surfista do Baixo Gávea
9 de março de 2010 at 13:23 Tags: { Entrevista, Revista, Rio de Janeiro, Rua, Surfista do Baixo Gavea }
Curioso pra saber mais sobre a nova sensação carioca? A revista Época também.
Gabriel Mellin é o nome do homem que aparece surfando na Rua dos Oitis, na Gávea, inundada pelo temporal que atingiu o Rio de Janeiro no último sábado, 6.
Surfista nas horas vagas, Gabriel, de 28 anos, é cineasta de profissão e irmão de Rafael, dono da produtora de vídeos Mellin, que foi responsável pelas imagens.
Confira a seguir a entrevista do Surfista do Baixo Gávea ao site da revista.
ÉPOCA – Você está bem de saúde?
Gabriel Mellin – (risos) Estou, estou bem sim. Minha família toda me ligou hoje perguntando a mesma coisa, depois que viram o vídeo. Até agora, dois dias depois, não senti nenhum problema.
ÉPOCA – Qual foi sua intenção ao remar com sua prancha em plena rua?
Mellin – Eu, meu irmão e dois amigos estávamos saindo da praia, depois do dia de sol, e fomos tomar um chope no Braseiro (bar no Baixo Gávea). Estávamos em uma das mesas mais internas do bar e quando caiu a chuva – foram vinte minutos de chuva forte – a água chegou na nossa canela. Ficamos uma hora esbravejando, falando da irresponsabilidade de se jogar lixo na rua, do descaso do governo com esse problema… Depois de tanto reclamar, resolvi pegar a câmera no meu carro para fazer um vídeo de denúncia e mandar para algum jornal.
ÉPOCA – No fim, acabou não sendo uma denúncia simplesmente…
Mellin – No meu carro também tinha a prancha, já que eu estava surfando naquele dia. E veio a idéia de surfarmos no meio da rua como um protesto bem humorado. Eu, como cineasta, sei que ninguém falaria sobre esse problema com imagens de denúncia, no estilo “Olha, que absurdo!”. Um vídeo desses nunca ganharia projeção. Quando se usa uma idéia para falar de um problema, principalmente com bom humor, a projeção é maior.
ÉPOCA – Vocês imaginavam a projeção que o vídeo teria?
Mellin – Nunca imaginávamos que a coisa ganharia essa proporção. A idéia do surfe veio porque víamos que, quando os carros passavam na rua, faziam ondas que entravam pelos bares da região. Alguém de nós disse “Daqui a pouco já vai dar para surfar”. Pegamos a prancha e a câmera no carro e eu fiz essa brincadeira.
ÉPOCA – Por que colocou o rosto na água? Não teve medo da sujeira que estava naquela água?
Mellin – (risos) Quando eu vi depois, fiquei assustado. Aquilo – colocar o rosto na água – é um cacoete de surfista quando está chovendo. A gente usa a própria água pra limpar as gotas que escorrem pelo rosto. Só percebi o perigo depois que vi as imagens. Minha namorada e minha família ficaram preocupados, talvez eu tome algumas vacinas… Não sei. Mas eu tranquilizei a família por já ter a imunidade forte. Quem, como eu, costuma surfar em praias como Leblon e São Conrado, onde o esgoto é às vezes lançado in natura, não tem muito medo de água suja.
ÉPOCA – E a reação das pessoas nos bares do Baixo Gávea, te surpreendeu?
Mellin – Eu nem esperava isso, fiquei morrendo de vergonha. Eles começaram a bater palmas, gritar… A vergonha foi tanta que eu nem voltei para o bar, fui direto para casa (risos).
ÉPOCA – Qual a mensagem que você gostaria de deixar sobre o episódio?
Mellin – A nossa maior intenção foi protestar contra a situação. É a prova de que os políticos são idiotas. Eu moro na Gávea, e tem alguma coisa errada quando uma chuva de vinte minutos apenas deixa um lugar alagado daquele jeito. É um absurdo. Fico feliz que o vídeo tenha feito sucesso e que tanta gente esteja comentando sobre o assunto. Como cineasta sei que os melhores filmes não são aqueles que tentam passar mensagens claras. Esses a grande maioria acha chatos. Os melhores são os que você passa a mensagem sem alarde, divertindo. Nesse sentido, o objetivo está sendo alcançado.
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