'Só Surubinha de Leve' do MC Diguinho é banida do Spotify e YouTube por apologia ao estupro


"Traz uma piranha, aí! Brota e convoca as putas. Mais tarde tem fervo, hoje vai rolar suruba. Só uma surubinha de leve, surubinha de leve. Com essas filha da puta. Taca a bebida, depois taca a pica e abandona na rua"

Parece a cena de um estupro, mas é trecho da letra de "Só Surubinha de Leve", do MC Diguinho.

Lançado no Spotify há quase um mês, o funk conquistou a primeira posição no Brazil Viral 50, ranking das músicas mais tocadas na plataforma, com 15 milhões de visualizações. No mundial, ocupava o nono lugar.




Não é a 1ª vez que um funk chama atenção por descrever uma cena de abuso. Em "Baile de Favela", do MC João e DJ R7, de 2015, o cantor deixava a "xota" da menina "ardendo". Já em "Covardia", do Livinho e Perera DJ, o muso das fãs de funk queria "abusar bem dessa mina". As músicas foram alvo de uma onda de reclamações.

Um detalhe faz toda a diferença, entretanto. Nas faixas anteriores, apesar da linguagem agressiva, a situação descrita era consensual. Enquanto Diguinho fala claramente sobre embebedar uma mulher para estuprá-la e depois abandonar na rua.

A violência dos versos do MC causou revolta nas redes sociais. A internet - ou parte sensata dela - reagiu. Um movimento capitaneado por mulheres denunciou a faixa por apologia ao estupro.




A reação começou no Twitter:




E foi bastante forte:




O cantor precisa urgentemente de uma assessoria, real:


Como a maioria dos homens, MC Diguinho tem um posicionamento machista a ponto de comparar mensagens de afirmação da liberdade feminina à apologia ao estupro.

Não foi difícil encontrar quem o apoiasse. Esse usuário do Twitter confunde liberdade artística com incentivo a abuso sexual:




Reclamar da música é "puro mimimi". Será?




Dessa vez, entretanto, o discurso de que as críticas são exageradas não colou:




"Essa música é um total desrespeito contra as mulheres! E essa é nossa resposta pra ela!", escreveram as irmãs Carol e Vitória na descrição de um vídeo-resposta a Diguinho.

O vídeo está bombando. Confira:



Não merecem palmas, merecem o Tocantins inteiro:




Outra reação que chamou bastante atenção foi o protesto da estudante Yasmim Formiga, de João Pessoa.

A jovem de 20 anos aparece representando uma vítima de estupro segurando um cartaz com o polêmico trecho da música.



A mobilização surtiu efeito. Nesta quarta-feira,17, o Spotify divulgou comunicado oficial informando que assim que constataram o problema, entraram em contato com a distribuidora, que se comprometeu a retirar o conteúdo.

"O catálogo do Spotify é abastecido por centenas de milhares de gravadoras, artistas e distribuidoras em todo o mundo. Eles são devidamente avisados sobre nossas diretrizes e são responsáveis pelo conteúdo que entregam. Desta forma, informamos que contatamos a distribuidora da música 'Só Surubinha de Leve' a respeito do ocorrido, e fomos informados que a faixa será retirada da plataforma nas próximas horas, uma vez que o tema foi trazido à nossa atenção. A música está atualmente no Top Viral pois teve um pico de consumo nos últimos dias", diz a nota.




A faixa já foi excluída do serviço de streaming.




Você disse "carreira"?




O cantor mostrou-se arrependido? Pediu desculpas? Nem.

Com o lançamento do clipe programado para 21h do mesmo dia, Diguinho não parecia preocupado com a repercussão negativa, nem com o Spotify ter excluído a faixa. Pelo Twitter disparou:


É possível entender que um jovem pobre, nascido em favela e sem acesso a educação escreva um funk falando de álcool e sexo abertamente. Mas apologia ao estupro é outra história.

Quem afirma isso é alguém que tem o mesmo histórico de vida que o cantor:


Cadê assessoria do MC Diguinho e da gravadora nessa hora? A música, com essa letra, jamais poderia ter sido lançada.

Pior, insistir no erro. A declaração do cantor repercutiu imediatamente:




No YouTube, um vídeo com o áudio da música divulgado pelo Legenda Funk, um dos maiores canais de funk do Brasil, chegou a bater 14,5 milhões de visualizações antes de ser apagado. Mas seguia em canais menores, com bem menos views.

No Soundcloud, onde a faixa primeiramente foi lançada, está perto do primeiro milhão de audições.




Assim como o Spotify, o YouTube já excluiu "Só Surubinha de Leve" de suas buscas. O mesmo aconteceu no Deezer. O perfil oficial da plataforma também confirmou a remoção:




Após dar de ombros e ver sua música excluída das plataformas digitais, a primeira reação de MC Diguinho foi alegar perseguição e se vitimizar. Errou feio, errou rude.

Agora, o cantor resolveu voltar atrás e divulgou nota de esclarecimento justificando não ser machista por morar com a mãe [oi?] e anunciando uma versão "light" do funk. Sem pedir desculpas.

Uma publicação compartilhada por MC Diguinho Oficial (@mcdiguinho) em


Diante disso:


E isso:



Inacreditável, caros leitores. Depois de toda a polêmica, a assessoria de imprensa contratada pelo cantor pra tentar botar panos quentes nos ânimos, faz essa lambança.


Pelamor, será que essa Timotinho Assesoria é fake, internet? Não é possível um desserviço desse.

A tal assessoria acabou virando meme, claro, e tá bombando no TTs Brasil do Twitter:



Confira outras reações:







































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