Vidas Negras Importam: Nike, Netflix e outras marcas se posicionam na luta contra o racismo. Consciência ou Oportunismo?


O recente assassinato de George Floyd, um homem negro sufocado por um policial branco que se ajoelhou sobre seu pescoço enquanto ele estava algemado e deitado de bruços, gerou comoção e vem provocando uma onda de intensos protestos nos EUA. A revolta está repercutindo além do território norte-americano. No Brasil, a pauta racial se uniu às manifestações antifascistas contra Jair Bolsonaro. Apesar da pandemia, as operações policiais têm continuado e feito mais jovens negros vítimas da violência policial.

Diante de tal cenário, o movimento internacional Black Lives Matter [Vidas Negras Importam] ganhou mais força e várias marcas vêm se posicionando. A Nike foi uma delas.


Pela primeira vez a marca de artigos esportivos subverte seu emblemático slogan "Just Do It" transformando-o em "Don't Do It". "Desta vez, não faça. Não finja que não há um problema", diz em um vídeo em que toma posição e convida as pessoas a fazerem o mesmo.

O filme é assinado pelo Wieden+Kennedy, de Portland. Assista:



A Nike já havia tomado claramente um posicionamento ao apoiar em 2018 o jogador de futebol-americano Colin Kaepernick. O atleta ficou famoso ao se ajoelhar durante o hino nacional dos EUA para protestar contra o racismo, gesto que se tornou emblemático.

Outras marcas também se manifestaram. Entre elas, Adidas, Netflix, GloboPlay e Amazon.

A Adidas endossou a postura da sua maior rival retuitando a Nike:



O perfil brasileiro da Netflix refletiu o posicionamento global, ajustando apropriadamente o discurso para o contexto local. A Netflix BR chegou, inclusive, a lembrar de pessoas pretas assassinadas pela polícia no país.





Alguns usuários questionaram o nível de comprometimento da plataforma de streaming:



A GloboPlay se inspirou na Adidas e também mencionou os concorrentes ao se posicionar.



Já a Amazon declarou seu apoio ao movimento afirmando que a violência com que o povo preto é tratado nos EUA precisa acabar.



O perfil brasileiro da Amazon compartilhou o tweet da Netflix e afirmou: "ficar em silêncio é ser cúmplice".



Marcas devem se posicionar publicamente sobre o racismo? 

Sim. Quando o assunto são causas sociais, grandes empresas têm um papel importante por fazerem parte do processo de formação de opinião de seus consumidores. Mais do que nunca, é preciso que todos os segmentos da sociedade se manifestem.

Em se tratando de uma marca, o posicionamento deve ser feito com jeito para que não se de margem para a postura ser mal-interpretada, como se quisesse se passar por boazinha. Importante dizer: apropriar-se de uma causa não deve ser nunca de modo pontual, mas respaldado por realizações concretas ao longo do tempo.

Consciência X Oportunismo

Agora que o debate sobre racismo está em evidência, marcas não podem simplesmente posar de apoiadoras do movimento negro, postando hashtag ou mudando seu avatar. O posicionamento de marca deve ser um processo contínuo a partir do entendimento de seu papel social e que a questão racial é algo de extrema relevância.

O Claraboia destaca a seguir alguns pontos que empresas devem levar em consideração para não serem acusadas de oportunistas.

Antes de mais nada, a mudança deve ser de dentro para fora. A empresa deve assumir um compromisso interno, no combate ao racismo em sua estrutura, no incentivo a lideranças e na
contratação de pessoas negras, entre outras iniciativas.

Ao desenvolver uma política de promoção de igualdade social, a marca deve envolver a comunidade negra na tomada de decisões. Sentar, conversar, ouvir e incluí-las. Uma boa estratégia é associar-se ou apoiar projetos que já existem, nascidos nas próprias comunidades.

Caso vá criar campanhas que contenham alguma questão racial, a marca deve optar por uma equipe ou assessoria com profissionais negros. Já na hora da divulgação nas redes, a marca fará uma boa escolha se priorizar influenciadores negros.

Cumprido o dever de casa, a marca poderá se posicionar com propriedade e pertinência. Basicamente, é agir mais do que reagir.

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