Para a campanha de Natal, a Perdigão resolveu repetir pelo terceiro ano consecutivo a doação de chester. Desta vez a ação "Você compra um Chester, a Perdigão doa outro" está gerando enorme polêmica.
A campanha é acusada de racismo estrutural por mostrar uma família branca e rica doando o produto para uma família preta e pobre.
Confira o comercial no player acima.
a campanha de natal da Perdigão é um poço de racismo, de representação do branco bondoso e do negro feliz pela caridade. surreal. https://t.co/fHdDwxj3E8— Maria Guimarães (@mariamguimaraes) 27 de novembro de 2018
A ação possui um segundo filme. Assista:
Se a ideia era falar em "generosidade" e evocar o espírito natalino, a Perdigão errou feio, errou rude ao reforçar estereótipos racistas.
comercial dos preto fudido ganhano frangassado dos branco legalzão parabéns perdigão 👍 pic.twitter.com/4S2Qsy7bbv— Déia Fanfiqueira FOI GOLPE SIM! (@NaoInviabilize) 27 de novembro de 2018
Agência e marca não fizeram o dever de casa:
Cara, a ideia da Perdigão de doar um Chester a cada um que for comprado é muito boa.— Gabi Bianco (@gabibianco) 27 de novembro de 2018
A execução da campanha é cagada mesmo. Não tinha ninguém pra falar que TALVEZ não fosse uma boa ideia fazer esse contraponto familia rica branca/familia pobre preta? https://t.co/ceC6LV6XEp
Como tudo no Brasil nos últimos anos, as opiniões estão bem divididas. Muita gente não viu nada demais nos comerciais.
Duas imagens do mesmo comercial da Perdigão. A primeira é da família q comprou e a segunda é da família que ganhou o Chester.— Gustavo #EuAvisei Henrique (@gusthpa) 27 de novembro de 2018
Em ambas as mesas tem mulheres e homens, crianças e adultos, brancos e negros.
Dessa vez vcs estão vendo racismo onde não tem.https://t.co/TB8S9CZrUq pic.twitter.com/r86Y2wswDF
Tacale polêmica:
Quem não notou, a família "branca" que comprou o Chester da Perdigão também tinha preto, pardo. Vocês q são burros.— Matheus Ravazzi (@MattRavazzi) 27 de novembro de 2018
Vão se foder ali por favor.
E bem vindos ao chororô do dia: o comercial de natal da Perdigão. pic.twitter.com/jQoCDZ9qwk— Lee (@LeeMitous) 27 de novembro de 2018
Olha quem também resolveu dar opinião:
"Não estou entendendo vocês problematizando a nova propaganda da Perdigão, não vi nada demais" pic.twitter.com/uiROM5byRk— Carminha Sincera 🆗 (@RainhaCarminha) 27 de novembro de 2018
Ele mesmo, o Meme da Barbie:
assisti o comercial da perdigão umas 10 vezes e nao encontrei nenhum problema, sera que foi soh porque uma família negra ganha um chester de uma família branca e eh retratada como inferior????? NOSSA VCS PROBLEMATIZAM TUDO, HOJE EM DIA TUDO EH RACISMO CREDO, BANDO DE ESQUERDALHAS pic.twitter.com/jv049iq9Fw— insta: ojardelito (@ojardelito) 27 de novembro de 2018
Muitos acusam os que se sentiram ofendidos de mimimi:
Tô achando desnecessária esse fuzuê todo por causa de um comercial da Perdigão— lady jenii🍭💋👅 (@yeshua_mally) 27 de novembro de 2018
Pra mim está tudo misturado
E a mesa que vcs falam que é do pobre tá melhor do que a minha no final do ano
Parem de tanto mímimi
O preconceito está na cabeça de vcs que colocam vitimismo em.tudo
Será, de fato, vitimismo?
Mais um exemplo de como o racismo é estrutural e influencia na maneira a qual negros são vistos. E pior, como o branco é retratada como o "salvador" do negro.— Luiz (@whosluiz) 27 de novembro de 2018
Então se é preto só pode ser pobre e necessitado, dona Perdigão? https://t.co/1GhZslCZR1
Há negros e brancos nos dois comerciais.
O problema está na maneira como eles são representados, o que acaba contribuindo para a naturalização do racismo. Uma marca que se pretende socialmente responsável não pode cometer um equívoco como esse.
Na família rica aparece uma mulher negra jovem ao lado de outra mulher negra, ao que tudo indica sua mãe. Notem que o tom de pele delas é de uma negritude "aceitável", clara o suficiente para entrar na família de brancos.
A jovem negra está ao lado de um homem branco. O marido? Uma leitura possível é que negros estariam ali não por mérito próprio, mas porque um homem branco e magnânimo foi capaz de apaixonar-se por uma negra e casar com ela.
Acho que os caras que criaram o comercial da Perdigão sabiam que ia dar merda, porque eles tentaram suavizar colocando um menino branco no meio da família negra e uma jovem negra na família branca— Hildeberto Jr. (@hildjr) 27 de novembro de 2018
Na família pobre e negra também há pessoas de pele clara. A branquitude deles não é como a da família rica. Eles são vistos como pardos.
Algumas pessoas podem não ver problemas nesse tipo de representação, mas ela reforça o racismo estrutural, aquele imperceptível que nos faz aceitar como normal algo que deve, sim, ser questionado e combatido.
Quem não sente na pele tem dificuldade para reconhecer a dor do outro. Nessas horas, o melhor a fazer é praticar a empatia e não acusar de vitimismo quem se sentiu atacado.
Do ponto de vista da publicidade, importante lembrar que Natal é tempo de união. Se um comercial de fim de ano está gerando mais treta do que união entre as pessoas, há algo de muito errado com ele. A ideia da doação de chester é boa, mas a maneira que os comerciais foram elaborados é ruim. A Perdigão deveria ter dialogado com representantes do movimento negro antes de lançar o comercial, como faz marcas como o Burger King.
Saiba mais sobre a campanha
Lançada ontem, a campanha da Perdigão foi parar no trending topics do Twitter BR na manhã desta terça-feira, 27, por conta da acusação de racismo. O objetivo, entretanto, é o oposto. A dona da marca, BRF, e a agência DM9DDB têm como intenção trabalhar o conceito "Generosidade".
Luciana Bulau, gerente-executiva de marketing da Perdigão conta que este é o ano de maior ênfase da campanha. "Pela primeira vez temos os dois pontos de vista: de quem doou e de quem recebeu. E é até uma forma de atestar o impacto da ação".
As diferentes perspectivas são retratadas nos dois comerciais veiculados em TV aberta - os tais filmes envolvidos na polêmica. Protagonizados por atores, o primeiro mostra a doação do chester e o segundo, os sentimentos evocados por aqueles que recebem o produto.
A campanha também realiza uma ação de merchandising no Caldeirão do Huck em que uma funcionária da Perdigão entrega o primeiro chester da campanha deste ano e dá início às doações.
Além da TV, a iniciativa contempla o documentário "Generosidade gera Generosidade", que acompanha a história de Cris dos Prazeres, moradora do Morro dos Prazeres, no Rio de Janeiro. Cris recebe um chester doado desde a primeira edição da campanha, em 2016 e, neste ano, decidiu retribuir e doar o produto para uma família carente.
Cris, como é chamada Zoraide Francisca Gomes, é ativista social em causas ligadas à saúde e ao meio ambiente. Morando no morro há 22 anos, a pernambucana participa de projetos pela reciclagem e dá aulas de linguagem digital a jovens da periferia. O documentário com sua história será exibido entre 6 e 15 de dezembro em 80 salas de cinema em São Paulo comercializadas pela FlixMedia e salas Cinemark ainda não divulgadas.
O documentário, produzido em colaboração com a Delicatessen Filmes, integra uma nova abordagem da campanha de Natal. A ideia, agora, é mostrar a história de quem recebe a doação e o impacto da ação em sua vida. O que explica o nome da campanha desse ano ser o mesmo do documentário, "Generosidade gera Generosidade".
Além da história de Cris, a Perdigão também mostrará em suas redes mais quatro depoimentos de famílias do Morro dos Prazeres que receberam a doação em anos anteriores. "É um local simbólico e reconhecido pelo público. Neste sentido, acreditamos que a escolha de procurar um personagem para o documentário tenha força para projetar ainda mais a ação, por ser uma comunidade com um número significativo de pessoas que foram beneficiadas com a ação de Natal da Perdigão desde o seu início, em 2016", conta Luciana.
"Sempre falamos dela em material nos pontos de venda e na TV, mas nunca exploramos tanto. Até então não demos voz aos que recebiam as doações", diz a executiva sobre o foco nas doações. Segundo ela, isso acontecia por uma questão de ajuste logístico da ação nos últimos três anos que não permitia dedicação completa à comunicação. São doados 250 mil chesters por ano a famílias de 14 municípios brasileiros. De acordo com dados da Perdigão, dois milhões de pessoas foram atingidas nos três anos de ação. O Natal é uma época importante para a marca, que tem 51% do market-share entre aves especiais.
No digital, a campanha conta com publicações de receitas e um contador de chesters doados no site da marca.
Até o encerramento deste conteúdo, a Perdigão não havia se pronunciou oficialmente sobre a polêmica gerada pelos comerciais de TV.
Confira mais reações:
Comercial da Perdigão:— O Bloco da Canalha (@BlocodaCanalha) 27 de novembro de 2018
Família faz "caridade de fim de ano" pra dormir com mais tranquilidade e não pensar na desigualdade social nos outros 364 dias do ano.
Quem doa: brancos.
Quem recebe: negros
Somos todos iguais. Vamos viver em harmonia. Mas cada um no seu "lugar" né? 😒 https://t.co/kfFTAaVQTE
Sem falar em quem faz a narrativa do comercial: homem branco/mulher negra.— O Bloco da Canalha (@BlocodaCanalha) 27 de novembro de 2018
Reforçando o estereótipo de que pobres não tem "estrutura familiar", (são desajustados)
Lembrei aquele episódio de "Todo Mundo Odeio o Cris" em que a professora não acredita que o Cris vive com o pai e mãe
Vi a propaganda da perdigão umas 3x e ainda n entendi o motivo do fuzuê— Gabi (@GaaBItencourt) 27 de novembro de 2018
Isso diz muito mais sobre você do que da propaganda, flor.— Militante (@RodrigoJunioX) 27 de novembro de 2018
A Perdigão criou uma campanha de Natal. A cada chester comprado, a empresa doará outro para uma família que necessita.— Caneta Desesquerdizadora (@Desesquerdizada) 27 de novembro de 2018
Os esquerdistas estão problematizando o comercial da campanha porque a família que doa o chester é branca e a que recebe é negra.
Esquerdismo é doença mental.
no momento sentindo mt raiva desse comercial da Perdigão, que reforça estereótipos sobre negros serem sempre quem está em posição de receber caridade dos brancos https://t.co/9gfzJaXiB6— thais fabris (@thatafabris) 27 de novembro de 2018
Vivi pra vê gente problematizando a boa ação da Perdigão.— Caroline. (@araujocaaa) 27 de novembro de 2018
alguem puxa a cordinha que eu quero descer.
Caralho!!! Toda empresa precisa urgentemente de um departamento de Vai dar merda.— Mari Ribeiro 🦊 (@EuAMariRibeiro) 27 de novembro de 2018
Ninguém pensou q a propaganda da Perdigão era uma bosta?! @perdigaooficial q q foi isso?!?!
Socorro gente
"Ain, mas no comercial da perdigão passa a ideia que todo pobre que precisa de ajuda é preto e o branco é o rico"— Franthiely (@ellafranthiely) 27 de novembro de 2018
Ué, e nao é EXATAMENTE isso que as cotas por cor (q vc defendem) deixam bem claro?
Não sou racista, até compro chester perdigão pra ajudar famílias pretas!— yuri mermo (@yuuri_marcal) 27 de novembro de 2018
Aaaai, Perdigão...
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