O recente assassinato de George Floyd, um homem negro sufocado por um policial branco que se ajoelhou sobre seu pescoço enquanto ele estava algemado e deitado de bruços, gerou comoção e vem provocando uma onda de intensos protestos nos EUA. A revolta está repercutindo além do território norte-americano. No Brasil, a pauta racial se uniu às manifestações antifascistas contra Jair Bolsonaro. Apesar da pandemia, as operações policiais têm continuado e feito mais jovens negros vítimas da violência policial.
Diante de tal cenário, o movimento internacional Black Lives Matter [Vidas Negras Importam] ganhou mais força e várias marcas vêm se posicionando. A Nike foi uma delas.
Pela primeira vez a marca de artigos esportivos subverte seu emblemático slogan "Just Do It" transformando-o em "Don't Do It". "Desta vez, não faça. Não finja que não há um problema", diz em um vídeo em que toma posição e convida as pessoas a fazerem o mesmo.
O filme é assinado pelo Wieden+Kennedy, de Portland. Assista:
A Nike já havia tomado claramente um posicionamento ao apoiar em 2018 o jogador de futebol-americano Colin Kaepernick. O atleta ficou famoso ao se ajoelhar durante o hino nacional dos EUA para protestar contra o racismo, gesto que se tornou emblemático.
Outras marcas também se manifestaram. Entre elas, Adidas, Netflix, GloboPlay e Amazon.
A Adidas endossou a postura da sua maior rival retuitando a Nike:
Together is how we move forward. — adidas (at 🏡) (@adidas) May 30, 2020
Together is how we make change. https://t.co/U1nmvMhxB2
O perfil brasileiro da Netflix refletiu o posicionamento global, ajustando apropriadamente o discurso para o contexto local. A Netflix BR chegou, inclusive, a lembrar de pessoas pretas assassinadas pela polícia no país.
To be silent is to be complicit.— Netflix (@netflix) May 30, 2020
Black lives matter.
We have a platform, and we have a duty to our Black members, employees, creators and talent to speak up.
David, João Pedro, João Vitor, George Floyd e tantos mais.— netflixbrasil (@NetflixBrasil) May 30, 2020
Ficar em silêncio é ser cúmplice, e eu não vou mais me calar.
Eu tenho um compromisso e um dever com meus assinantes, funcionários, criadores de conteúdo e talentos negros. #vidasnegrasimportam em qlqr lugar do mundo https://t.co/kqPtBnLhBi
Alguns usuários questionaram o nível de comprometimento da plataforma de streaming:
tem negros em cargos de liderança? a frente de produções? fechando contrato com diretores e diretoras negras? contando outras narrativas sobre pessoas negras (sem ser pessoas negras morrendo e sofrendo)? só tweet bonito não vale.— Naila Agostinho (@naila_agostinho) June 1, 2020
A GloboPlay se inspirou na Adidas e também mencionou os concorrentes ao se posicionar.
Juntos nessa! @NetflixBrasil @PrimeVideoBR Vamos usar nossas vozes para ampliar essa luta. #vidasnegrasimportam https://t.co/I2XSGRKwg1— globoplay em 🏠 (@globoplay) May 31, 2020
Já a Amazon declarou seu apoio ao movimento afirmando que a violência com que o povo preto é tratado nos EUA precisa acabar.
— Amazon (@amazon) May 31, 2020
O perfil brasileiro da Amazon compartilhou o tweet da Netflix e afirmou: "ficar em silêncio é ser cúmplice".
Ficar em silêncio é ser cúmplice. Juntos pelo que importa. Somos aliados nessa, @netflixbrasil. #VidasNegrasImportam https://t.co/MAuYG0ZWQp— Amazon.com.br (@amazonBR) May 31, 2020
Marcas devem se posicionar publicamente sobre o racismo?
Sim. Quando o assunto são causas sociais, grandes empresas têm um papel importante por fazerem parte do processo de formação de opinião de seus consumidores. Mais do que nunca, é preciso que todos os segmentos da sociedade se manifestem.
Em se tratando de uma marca, o posicionamento deve ser feito com jeito para que não se de margem para a postura ser mal-interpretada, como se quisesse se passar por boazinha. Importante dizer: apropriar-se de uma causa não deve ser nunca de modo pontual, mas respaldado por realizações concretas ao longo do tempo.
Consciência X Oportunismo
Agora que o debate sobre racismo está em evidência, marcas não podem simplesmente posar de apoiadoras do movimento negro, postando hashtag ou mudando seu avatar. O posicionamento de marca deve ser um processo contínuo a partir do entendimento de seu papel social e que a questão racial é algo de extrema relevância.
O Claraboia destaca a seguir alguns pontos que empresas devem levar em consideração para não serem acusadas de oportunistas.
Antes de mais nada, a mudança deve ser de dentro para fora. A empresa deve assumir um compromisso interno, no combate ao racismo em sua estrutura, no incentivo a lideranças e na
contratação de pessoas negras, entre outras iniciativas.
Ao desenvolver uma política de promoção de igualdade social, a marca deve envolver a comunidade negra na tomada de decisões. Sentar, conversar, ouvir e incluí-las. Uma boa estratégia é associar-se ou apoiar projetos que já existem, nascidos nas próprias comunidades.
Caso vá criar campanhas que contenham alguma questão racial, a marca deve optar por uma equipe ou assessoria com profissionais negros. Já na hora da divulgação nas redes, a marca fará uma boa escolha se priorizar influenciadores negros.
Cumprido o dever de casa, a marca poderá se posicionar com propriedade e pertinência. Basicamente, é agir mais do que reagir.
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